Alergia à proteína do leite de vaca: tudo o que precisa de saber

As alergias alimentares ocorrem quando o sistema imunológico do corpo (mecanismo de defesa do organismo) responde de maneira anormal a certos alimentos. Normalmente, o sistema imunológico ajuda o corpo a combater as coisas nocivas (como no caso dos patógenos). Para pessoas com alergias alimentares, o sistema imunológico identifica incorretamente certos componentes dos alimentos como prejudiciais e produz uma resposta inadequada. Isso leva a desagradáveis sinais e sintomas associados com alergias que às vezes podem ser fatais.

Mais de 120 alimentos são reconhecidos por causar alergias alimentares. A alergia à proteína do leite de vaca (APLV), é uma das alergias alimentares mais comuns em bebés, e geralmente aparece antes de 1 ano de idade. 

Alergia à proteína do leite de vaca

O que é?

A APLV é um tipo de alergia ao leite, na qual o sistema imunológico responde às proteínas encontradas no leite de vaca, fazendo com que as pessoas apresentem sintomas alérgicos. Estes podem incluir problemas com a pele (erupção cutânea, urticária, pele seca, escamosa ou coceira), sistema digestivo (diarreia, vómitos, obstipação e refluxo) e sistema respiratório (respiração barulhenta, tosse, corrimento nasal).

Alergia à proteína do leite de vaca

Diferença entre APLV e a intolerância à lactose

É importante distinguir APLV de intolerância à lactose, pois são duas entidades clínicas distintas. Esta última ocorre quando o organismo não tem lactase (uma enzima intestinal) em quantidade suficiente. Esta enzima é necessária para a digestão da lactose (principal açúcar do leite). A intolerância à lactose origina sintomas
digestivos como sensação de má digestão, barriga inchada, cólicas ou diarreia, mas não reações graves como as que podem resultar da alergia ao leite. Normalmente, não é necessária uma dieta rigorosa, mas apenas a redução da ingestão de alimentos contendo lactose.

Deve ter-se em atenção que o facto de um alimento ser apresentado como isento de lactose, não o torna seguro para pessoas com APLV, pois o leite e os seus derivados sem lactose têm uma composição proteica idêntica à dos produtos com lactose, sendo por isso igualmente alergénicos.

Alergia à proteína do leite de vaca

Sintomatologia da APLV

A apresentação clínica da APLV, pode variar desde formas ligeiras a formas muito graves, de início muito rápido a mais tardio, devendo suspeitar-se desta alergia quando sintomas idênticos se repetem após a ingestão de leite ou de derivados. A APLV mediada por anticorpos IgE é a mais comum, sendo uma reação imediata com início geralmente nos primeiros 30 minutos e até 2 horas, após a exposição ao alimento (ingestão, contacto, ou inalação de partículas).

Os sinais ou sintomas mais frequentes são:

  • Urticária (comichão), eventualmente associada a angioedema (inchaço);
  • Eczema;
  • Vómitos e/ou diarreia;
  • Dor abdominal/cólica;
  • Dificuldade respiratória;
  • Anafilaxia (resposta alérgica grave e com risco de vida).
Alergia à proteína do leite de vaca

Diagnóstico da APLV

O diagnóstico deverá ser suspeitado pela existência de história clínica sugestiva, nomeadamente introdução recente de leite adaptado (fórmula de leite em pó para lactentes) com posterior aparecimento, após alguns minutos ou horas, dos sinais ou sintomas característicos desta doença, que passam a reproduzir-se após as ingestões subsequentes de lácteos.

Para estabelecer um diagnóstico correcto pode ser necessário recorrer a diversos métodos:

  • Dieta de eliminação: eliminação das proteínas do leite de vaca da dieta com total resolução das queixas;
  • Testes cutâneos: especificamente dirigidos para o leite e as proteínas do leite de vaca;
  • Análise sanguínea: com pesquisa de anticorpos IgE específicos para o leite de vaca e proteínas do leite de vaca;
  • Prova de provocação oral: é realizada em meio hospitalar, sob vigilância médica, e permite confirmar o diagnóstico pela ocorrência de sintomatologia, após a ingestão de proteínas do leite de vaca. Esta, permite, também, avaliar a aquisição de tolerância ou resolução da APLV.
Alergia à proteína do leite de vaca

Alimentos a evitar na APLV

O tratamento passa pela evicção de ingestão/contacto com as proteínas do leite de vaca e/ou substituição
das mesmas na dieta, por proteínas de leite de vaca modificadas/fragmentadas ou por outras bebidas substitutas
, de modo a evitar reações.

Todos os alimentos que contêm leite de vaca ou derivados do leite de vaca (iogurte, nata, queijo, manteiga, etc.), correspondem a alimentos de risco pois contêm as proteínas responsáveis por esta alergia alimentar.

Exemplos de alimentos que podem conter leite, derivados do leite ou proteínas lácteas

  • Produtos de padaria/pastelaria: pão-de-leite, pão de forma, pão tipo brioche, croissant, queques, bolos de arroz, pastel de nata, bolos com cremes;
  • Doçaria: leite-creme, arroz-doce, pudim flan, mousse de caramelo ou “baba de camelo”, gelados, chocolates, bombons, caramelos;
  • Sopas: cremes de legumes ou de marisco podem conter leite, natas ou manteiga;
  • Molhos: molho branco ou béchamel, molho holandês, molhos para carne ou peixe que podem ser confeccionados com natas ou manteiga, molhos para saladas ou grelhados que podem conter natas ou iogurte;
  • Pratos salgados: gratinados (que podem conter molho branco, natas ou queijo), tartes, quiches, pizza, lasanha, pratos de massa estilo italiano (pasta), alimentos fritos ou salteados em manteiga e puré de batata;
  • Outros: fiambre ou salsichas, algumas batatas fritas com sabores ou outros snacks e algumas margarinas vegetais.

Por outro lado, há que haver especial cuidado na confeção e manuseamento dos alimentos, de modo a evitar contaminação devido a contacto com o leite, derivados de leite ou outros preparados que possam conter proteínas do leite de vaca. O risco de contaminação inadvertida é maior em estabelecimentos de restauração ou
mesmo em casa de amigos ou familiares.

Alergia à proteína do leite de vaca

Alimentos substitutos

  • Leite materno;
  • Leite extensamente hidrolizado;
  • Papas não lácteas (as que são para fazer com o leite do bebé e não com água);
  • Bebidas ou fórmulas para lactentes baseadas em proteínas de origem vegetal (soja, arroz, aveia, coco, amêndoa, avelã, espelta, quinoa, kamut, semente de cânhamo, linhaça);
  • Todos os alimentos que na sua composição estejam isentos de proteínas de leite de vaca – leia todos os rótulos de alimentos (os fabricantes podem alterar a composição dos seus produtos a qualquer momento, portanto, leia sempre os rótulos antes de comprar ou consumir).

Na substituição do leite de vaca deverá existir o cuidado de evitar défices nutricionais, pelo que poderá ser necessário acompanhamento especializado. Por exemplo, vegetais de folha verde (couves, brócolos, espinafres), leguminosas (feijão) e frutos secos (noz, amêndoa) ou desidratados (figo, ameixa) constituem fontes alternativas de cálcio.

Alergia à proteína do leite de vaca

Para saber mais sobre a APLV clique aqui.

Conclusão

Alergia à proteína do leite de vaca

O tratamento para a APLV passa por uma alimentação que não contenha qualquer proteína do leite vaca (sem correr o risco de défices nutricionais) e, para isso é essencial ter cuidado na seleção de alimentos, nomeadamente através de uma leitura atenta dos rótulos de alimentos pré-confecionados. O leite faz parte da lista de alimentos alergénicos obrigatoriamente mencionados nos rótulos pela legislação europeia.

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