Atualmente, vivemos numa sociedade que quer tudo para ontem, e isto também se aplica ao peso. A verdade é que a mudança exige tempo, resiliência e persistência.
É comum as pessoas iniciarem alterações nos comportamentos demasiado rápidas, física e psicologicamente extenuantes (muitas vezes com o objetivo de emagrecer) – resultado: este comportamento mais tarde ou mais cedo cessa e volta-se rapidamente aos velhos hábitos.
Como iniciar um novo hábito
Hábito define-se como “substantivo masculino que indica uma tendência ou comportamento, geralmente inconsciente, que resulta da repetição frequente de determinados atos”.
De facto, o hábito de determinado comportamento surge da sua repetição. A repetição, por sua vez, exige tempo. Ou seja, não é por seguir 2 semanas uma determinada dieta que esta se torna logo um hábito.
A mudança de comportamento alimentar exige determinação, consciência, perseverança, persistência, motivação, resiliência e uma certa dose de “elasticidade mental”, porque qualquer processo de alteração comportamental (que exige tempo) tem fases mais fáceis e outras fases assim mais complicadas (não é um processo linear). Ou seja, não vai sempre correr tudo bem, nem vai sempre correr tudo mal. O importante é que a mudança vá acontecendo, quase de uma forma impercetível, que é o resultado do tempo.
Importa também que a alteração que esteja a fazer, faça sentido. Imaginemos uma situação em que tenho como objetivo retirar gradualmente a lactose da minha alimentação, isto porque vi na internet que a lactose faz mal. No entanto, não existe de todo evidência de que isto é verdade. Existem pessoas que de facto têm suscetibilidade à lactose e que poderá fazer sentido assim reduzir ou retirar na totalidade da sua alimentação. Mas se este não for o meu caso, não faz sentido querer impor esta mudança. Devemos sempre questionar-nos porque fazemos/queremos fazer alguma alteração na nossa dieta.
Fator físico na perda de peso
No início da alteração dos hábitos alimentares (e consoante também o peso que se quer perder), os tratamentos nutricionais têm um género de efeito “choque” no nosso organismo. Ou seja, as mudanças que fazemos têm um maior efeito (são “mais sentidas”) no nosso organismo, que acaba por reagir de uma forma mais intensa e visível. Por outro lado, com o passar do tempo, dá-se o efeito “habituação” (estagnação), que significa que já não obtemos os mesmos efeitos metabólicos com determinada alteração a nível alimentar (como acontecia antes).
Temos que perceber que ao induzirmos perda de gordura no nosso organismo existem consequências ao nível do equilíbrio do mesmo. É por esta razão, que se aconselham perdas lentas a moderadas de peso, em média, de 0,5kg a 1kg por semana. Não só para dar tempo de “adaptação” ao nosso organismo, mas também para não haver o efeito “rebound” que quer dizer reganho do peso perdido.
Sempre que o emagrecimento é demasiado rápido, é muito provável que o nosso corpo interprete esse processo como uma “doença” e de seguida faça de tudo para “recuperar”. O que faz com que volte a ganhar o peso que até então tinha conseguido perder, pois não deu ao seu corpo “tempo de adaptação”.
Por isso, já sabe, sempre que o seu peso estagnar, mesmo que “esteja a cumprir o seu plano”, não desmotive, pois isso só significa que o seu corpo se está a adaptar de forma a que no futuro não volte a ganhar peso. Seja paciente com o seu metabolismo. Para além disso, perdas de peso repentinas exigem mudanças alimentares demasiado radicais, que conduzem à privação de nutrientes fundamentais para o corpo.
É também apenas com o tempo que conseguimos verdadeiramente alterar os nossos hábitos alimentares. O objetivo nunca deverá ser fazer apenas determinadas alterações de momento, porque se quer perder peso. Claro que eventualmente chegando ao peso objetivo, haverá certas e determinadas adaptações que deverão ser feitas a nível do plano alimentar, uma vez que já não há o objetivo de défice calórico (perda de peso). Mas as bases que foram adquiridas ao longo do processo de perda de peso, deverão ficar, para prevenir voltar aos velhos hábitos e assim ao velho peso.
O fator psicológico na perda de peso
Para além da importância de conhecer e entender o fator físico que influencia o processo de perda de peso, importa igualmente perceber o impacto e a importância do fator psicológico. Aliás, o sucesso da mudança de hábitos alimentares é tanto físico, como mental. Se não for desta forma, jamais haverá uma manutenção dos hábitos a longo prazo (que é o principal objetivo).
No início, a motivação está no auge. É quando seguimos o plano a 100%, quando conseguimos resistir a tudo o que nos tente, quando evitamos ir a restaurantes e levamos os vegetais para a festa em casa dos amigos, quando fazemos compras todos os dias só para garantir que comemos “tudo certo”. E é óbvio que isto se reflete em emagrecimento e bons resultados.
Mas, ao final de algum tempo, por exemplo, após uma fase de alguma “estagnação metabólica” (explicada anteriormente) e se estivermos a fazer “tudo bem”, é normal que isso nos afete um pouco a motivação e o foco. Com o passar do tempo, é normal que já comecemos a ir jantar com amigos ou cometer alguns erros ocasionais ou comer alguns alimentos que não são exatamente os prescritos no plano.
A verdade é que está tudo bem em ir fazendo coisas “fora do plano”, pois se for demasiado rígido e restritivo consigo próprio, entrará num processo de saturação e desistência. A manutenção do comportamento baseia-se num equilíbrio do mesmo, ou seja, “nem 8 nem 80”. Nem deve comer tudo o que tem disponível, nem deve continuar a restringir-se como no início. Só assim obterá um equilíbrio a nível mental, que lhe permitirá manter um comportamento alimentar saudável ao longo do tempo, que se irá refletindo no peso, e se tornará um hábito para a vida. Esta é a génese dos hábitos alimentares saudáveis.
Conclusão
Para qualquer objetivo que queiramos atingir exige tempo. A mudança exige tempo! Sabemos também que os objetivos irrealistas tendem a fazer-nos desistir por serem inalcançáveis. Se está a pensar perder peso, saiba que esse não é o objetivo principal. É apenas a consequência da mudança do seu comportamento ao longo do tempo. E só o tempo fará o hábito e sem hábitos não é possível ter sucesso a longo prazo.
