A tiróide é uma glândula endócrina cuja principal função é armazenar e sintetizar as seguintes hormonas: tiroxina (T4), triiodotironina (T3) e calcitonina. A síntese das hormonas da tiróide envolve inúmeros micronutrientes nomeadamente o iodo, o selénio, o zinco, o cobre, o ferro, a vitamina A e a vitamina D, que são essenciais para a normal funcionamento da tiróide.
A patologia da tiróide é extremamente complexa.
O hipertiroidismo e o hipotiroidismo são as disfunções tiroideias mais comuns.
O que é a tiróide?
A tiróide é uma pequena glândula que mede cerca de 5cm de diâmetro situada no pescoço sob a pele e por baixo da maçã-de-adão. As duas metades (lobos) da glândula estão ligadas na parte central (istmo), de tal maneira que parecem a letra H ou um nó de lacinho.
Normalmente, a glândula da tiróide não se consegue ver e mal se pode palpar.
A glândula da tiróide segrega as hormonas tiroideias, que controlam a velocidade das funções químicas do corpo (a velocidade metabólica) – estas hormonas estão envolvidas em múltiplas funções reguladoras do funcionamento do organismo e, por isso, a sua carência poderá comprometer diversas funções.
As hormonas da tiróide apresentam dois efeitos sobre o metabolismo:
- Estimulam quase todos os tecidos do corpo a produzir proteínas;
- Aumentam a quantidade de oxigénio que as células utilizam.
Para produzir as hormonas tiroideias, a glândula da tiróide precisa de iodo – um oligoelemento (micronutriente) que é obtido pela alimentação (o corpo não o sintetiza). Esta glândula concentra o iodo e processa-o no seu interior. Quando há um correto funcionamento da tiroide, há também um maior gasto de energia.
As hormonas da tiroide encontram-se em duas formas. A tiroxina (T4), que é a forma produzida na glândula da tiroide, tem apenas um efeito ligeiro na aceleração da velocidade dos processos metabólicos do corpo. A tiroxina converte-se no fígado e noutros órgãos numa forma metabolicamente ativa, a triiodotironina (T3). Esta conversão produz aproximadamente 80% da forma ativa da hormona. Os 20% restantes são produzidos e segregados pela tiroide.
Estas hormonas são responsáveis pela regulação do metabolismo celular, nomeadamente da taxa de metabolismo basal e temperatura corporal, e desempenham um papel determinante no crescimento e desenvolvimento dos órgãos, especialmente do cérebro.
Hipertiroidismo e hipotiroidismo
Hipertiroidismo
O hipertiroidismo é causado pelo excesso de produção das hormonas tiroideias que são libertadas na corrente sanguínea. Esta condição afeta vários orgãos e funções do organismo.
A causa mais frequente é a doença de Graves, que é uma doença auto-imune caracterizada pela circulação de anticorpos alterados que atuam sobre células normais na tiroide estimulando a sua hiperatividade.
Alguns sintomas do hipertiroidismo são:
- Ansiedade;
- Irritabilidade;
- Insónia;
- Tremor;
- Aumento do trânsito intestinal;
- Palpitações e aumento da frequência cardíaca;
- Perda de peso (apesar do aumento do apetite);
- Irregularidades menstruais;
- Bócio;
- Olhar vivo e fixo e/ou olhos proeminentes e alterações visuais (doença de Graves).
Hipotiroidismo
O hipotiroidismo é definido como um estado clínico resultante da deficiência de hormonas da glândula da tiroide.
As causas para o hipotiroidismo podem ser as seguintes:
- Tiroidite de Hashimoto: consiste na reação do sistema imunitário contra a própria tiróide com a gradual destruição da mesma;
- Tratamento do hipertiroidismo (quer seja pelo tratamento com iodo radiotaivo, quer pela cirurgia);
- Carência crónica de iodo na dieta (mais comum em países em via de desenvolvimento).
Alguns sintomas do hipotiroidismo são:
- Astenia;
- Fraqueza muscular;
- Obstipação;
- Diminuição da audição;
- Lentificação do raciocínio, da fala e dos movimentos;
- Depressão;
- Infertilidade.
No caso de hipotiroidismo uma das consequências mais comuns é o aumento de peso associado à desaceleração do metabolismo.
O tratamento do hipotiroidismo consiste na substituição da hormona tiroideia deficiente, mediante um dos diversos preparados orais existentes. A forma preferida é a hormona tiroideia sintética – T4. O tratamento inicia-se com doses baixas de hormona tiroideia, porque os efeitos secundários podem ser graves se a dose for demasiado alta. A dose aumenta gradualmente até que se restabeleça a normalidade dos valores sanguíneos da hormona estimulante da tiroide (TSH). A medicação, em geral, será tomada durante toda a vida.
A alimentação na tiróide
No que diz respeito à alimentação, o metabolismo dos nutrientes tem um impacto importante na função da tiróide, nomeadamente a ingestão adequada de micronutrientes. Para uma normal função da tiróide verifica-se a necessidade de uma ingestão adequada de iodo e concomitantemente de outros micronutrimentos, tais como selénio, zinco, cobre, ferro, vitaminas A e D.
Fontes de iodo
O iodo está presente naturalmente no solo e na água do mar. A concentração de iodo nas plantas, ou animais, depende do teor de iodo dos solos e das águas, da utilização de desinfetantes iodados na indústria alimentar e uso, na agricultura, de fertilizantes ricos em iodo.
Fontes alimentares de iodo:
Optar pelo sal iodado e comer mais peixe e produtos do mar é a melhor solução para
combater as carências de iodo.
A ingestão recomendada diária de iodo é de 150µg para as mulheres e para os homens.
Fontes de selénio
Fontes alimentares de selénio:
O teor de selénio na carne e pescado varia entre 2,8 a 80,9µg/100g de alimento, sendo o pescado (atum e sardinha), os alimentos com maior quantidade deste micronutriente.
A ingestão recomendada diária de selénio é de 55µg para as mulheres e para os homens.
Fontes de zinco
Fontes alimentares de zinco:
A biodisponibilidade de zinco proveniente de alimentos de origem vegetal é inferior.
A ingestão recomendada diária de zinco é de 8 mg para as mulheres e 11mg para os homens.
Fontes de cobre
Fontes alimentares de cobre:
A biodisponibilidade de cobre é reduzida com a presença do ferro. As recomendações nutricionais do cobre são baixas e portanto podem ser facilmente atingidas com uma alimentação variada e equilibrada.
A ingestão recomendada diária de cobre é de 900μg (= 0,9mg) por dia para as mulheres e para os homens.
Fontes de ferro
Fontes alimentares de ferro:
A biodisponibilidade de ferro é diminuída com a presença de zinco e aumentada com presença de vitamina C. As recomendações nutricionais de ferro são facilmente atingidas com uma alimentação variada e equilibrada.
A ingestão recomendada diária de ferro é de 8 mg para homens e 18 mg para mulheres.
Fontes de vitamina A
Fontes alimentares de vitamina A:
A ingestão recomendada diária de vitamina A é de 900 µg para homens e 700µg para mulheres.
Fontes de vitamina D
Fontes alimentares de vitamina D:
A ingestão recomendada diária de vitamina D é de 5μg para adultos e de 10μg para adultos com idade superior a 50 anos.
Conclusão
Pessoas que apresentam disfunções tiroideias é fundamental a realização de uma avaliação do estado nutricional, de maneira a fazer-se uma abordagem nutricional adequada à patologia (o mais específica possível tendo em conta o caso), com foco também na regulação do balanço energético. A implementação de estratégias para promover um aporte adequado de iodo pode ter um papel importante para a prevenção da disfunção da tiróide e patologias associadas. Ou seja, uma alimentação adequada pode ser utilizada como medida preventiva para a disfunção tiroideia e patologias associadas.
Para além disso, as necessidades nutricionais dos restantes micronutrientes intervenientes na função da tiróide são facilmente atingidas se os princípios de uma alimentação variada e equilibrada forem seguidos.
Em relação à suplementação não existe evidência científica relativamente à sua utilização para a abordagem terapêutica às patologias da tiróide.
Podemos concluir que as pessoas portadoras de patologias a nível da tiróide podem seguir uma vida “normal”, desde que o seu problema seja corretamente identificado, havendo a combinação de tratamento adequado (por exemplo, a toma de fármacos para equilibrar os valores normais da tiróide) com a alimentação.