Doença celíaca: tudo o que precisa de saber

A doença celíaca é uma doença autoimune que ocorre em indivíduos com predisposição genética, causada pela permanente sensibilidade ao glúten – uma proteína presente nos cereais trigo, centeio, cevada e aveia.

A doença celíaca caracteriza-se por um estado de inflamação crónica da mucosa intestinal que reverte quando há ausência do glúten da alimentação e, por outro lado, reincide após a sua reintrodução na dieta. Na base da inflamação crónica estão reações imunológicas complexas que provocam alterações na mucosa do intestino delgado, conduzindo à diminuição da absorção de nutrientes.

Atualmente, é considerada como uma condição comum, que pode ser diagnosticada em qualquer idade e que afeta múltiplos sistemas de órgãos.

Em Portugal, estima-se que 1 a 3% da população portuguesa seja celíaca, mas apenas 10 000 pessoas estarão diagnosticadas, sendo mais frequente em adultos do que em crianças.

doença celíaca

Prevalência da doença celíaca

A doença celíaca pode ser diagnosticada em qualquer idade, mas parece surgir mais frequentemente
na infância
(entre os 6 e os 24 meses) ou na quarta ou quinta década de vida.

doença celíaca

A prevalência é mais aumentada em grupos de risco:

  • Familiares de primeiro grau;

  • Indivíduos portadores de síndrome de Down e aqueles com doenças autoimunes, nomeadamente diabetes mellitus tipo 1 e tiroidite.

Sintomatologia da doença celíaca

A sintomatologia da doença celíaca é muito variável e depende de vários fatores, tais como: idade de início da doença, extensão da lesão da mucosa intestinal, sensibilidade ao glúten e quantidade de glúten ingerido na dieta.

No caso das crianças, os sinais e os sintomas de má absorção podem tornar-se óbvios alguns meses após a introdução dos cereais na alimentação.

A sintomatologia característica da doença celíaca é a seguinte:

  • Diarreia/ prisão de ventre;
  • Distensão abdominal;
  • Flatulência;
  • Atraso de crescimento;
  • Perda de peso;
  • Atrofia muscular;
  • Alterações de humor.
doença celíaca

Diagnóstico da doença celíaca

A simples presença de sintomas não é suficiente para fazer um diagnóstico.

Desta forma, após suspeita da doença, é necessário conhecer as causas das perturbações da absorção intestinal, através de critérios de diagnóstico sustentados:

  • Análises ao sangue e às fezes para confirmar a existência de má absorção dos alimentos;
  • Testes serológicos para verificar a existência de anticorpos da doença celíaca: anti gliadina, anti endomísio e anti transglutaminase (atualmente o mais exato);
  • Biópsia ao intestino para confirmação de diagnóstico.

Nota: é importante que o diagnóstico seja realizado quando o indivíduo não está a praticar uma dieta isenta de glúten para evitar falsos negativos.

doença celíaca

Tratamento da doença celíaca

Após a confirmação do diagnóstico de doença celíaca, o único tratamento consiste na prática de uma dieta isenta de glúten para toda a vida. Até ao momento, não existe ainda tratamento farmacológico para esta doença. A eliminação do glúten da alimentação vai resultar na regressão das lesões intestinais e na recuperação do organismo.

doença celíaca

Por isso, é fundamental que o doente celíaco se assegure que os alimentos que consome não contêm glúten na sua composição, sendo, por isso, muito importante a leitura atenta dos rótulos dos produtos alimentares.

Existem algumas referências na rotulagem aos cereais agressores e aos seus derivados ou designações como, por exemplo:

  • Farinha;
  • Espessantes;
  • Malte;
  • Extrato de malte;
  • Amido;
  • Amido modificado;
  • Cereais;
  • Emulsionantes;
  • Estabilizantes;
  • Proteínas vegetais e proteínas vegetais hidrolisadas;
  • Goma vegetal.

Todos eles constituem sinais de alarme que devem levar os doentes celíacos a rejeitar o produto!

Os cuidados a ter com a alimentação não passam simplesmente pela exclusão do glúten! É igualmente essencial garantir a prática de uma alimentação completa, variada e equilibrada que forneça ao organismo todos os nutrientes necessários.

Pode encontrar receitas saudáveis sem glúten aqui.

doença celíaca
doença celíaca

Importa tamém reforçar que para um tratamento eficaz da doença celíaca é realmente necessário um trabalho de equipa multidisciplinar: do médico, do nutricionista, da família e da comunidade, pois o cumprimento da dieta isenta de glúten e a aceitação das mudanças de estilo de vida não é um processo simples e pode levar a um decréscimo da qualidade de vida. Deve haver aconselhamento e apoio ao doente, bem como uma sensibilização para a doença por parte da sociedade.

Alimentos permitidos

São aqueles alimentos que podem ser consumidos livremente, pois são naturalmente isentos de glúten:

  • Batata, arroz, amaranto, quinoa, milho, mandioca, tapioca, trigo sarraceno, alfarroba, araruta, sorgo;
  • Açúcar, mel, melaço, compotas e marmeladas caseiras;
  • Carne, pescado, ovos;
  • Hortofrutícolas;
  • Leguminosas (grão de bico, feijão, favas, lentilhas, soja, etc), frutos oleaginosos (noz, pinhão, amêndoa,
    avelã, etc) e sementes (sésamo, girassol, linhaça, abóbora, etc)
    ;
  • Leite simples, iogurtes (naturais e aromas), queijo fresco, requeijão;
  • Azeite e óleos vegetais;
  • Sal, especiarias (noz moscada, pimenta em grão, cravinho, etc) e ervas aromáticas (salsa, coentros, orégãos,
    estragão, etc)
    ;
  • Água, chá, infusões, café ou café descafeinado em grão;
  • Vinho, vinho do Porto, espumante, champanhe;
  • Fermento biológico fresco e seco;
  • Néctares e sumos de fruta naturais e gaseificados.
doença celíaca

Alimentos específicos sem glúten

Os doentes celíacos podem encontrar à sua disposição vários Alimentos Específicos sem Glúten (AESG), incluindo, por exemplo, pão, tostas, bolos, bolachas, biscoitos, crepes, pizzas, bases para pizzas, massas,
sobremesas e também farinhas adequadas para confeção caseira.

doença celíaca

No entanto, os AESG apresentam algumas desvantagens:

  • Por vezes são mais ricos em gorduras e açúcares e, consequentemente, em energia, em comparação com as versões convencionais, de forma a favorecer o sabor, a textura, a aparência e a aceitação generalizada destes alimentos;
  • São geralmente mais dispendiosos do que os alimentos com glúten;
  • Tendem a apresentar quantidades inferiores de vitaminas do complexo B e ferro comparativamente às versões
    convencionais, o que pode ter implicações na adequação da ingestão nutricional dos doentes celíacos.

Cuidados a ter fora de casa

Seguem alguns cuidados necessários a ter quando se fazem refeições fora de casa:

  • Tenha em atenção ao consumo de alimentos fritos em restaurantes, pelo cuidado necessário a ter com o óleo;
  • Evite tomar café onde a marca do produto não é conhecida, pois o pó de café pode estar misturado com cevada, para aumentar a quantidade na embalagem;
  • Esteja prevenido com alimentos habituais, para não ser preciso comprar alimentos potencialmente perigosos;
  • Não opte por pão ou qualquer outro produto fabricado nas padarias comuns, pois existe uma forte possibilidade de contaminação, mesmo não tendo glúten nos seus ingredientes, existe contaminação, já que todos os outros alimentos preparados têm a farinha de trigo como base. Se possível fazer o pão em casa (mais
    económico, saboroso e nutricionalmente equilibrado)
    ;
  • Tenha cuidado com os restaurantes de comida oriental, alguns alimentos podem conter glúten na sua composição (por exemplo, a maioria dos molhos de soja têm trigo na sua composição);
  • Ao comer em restaurantes, opte pelos alimentos mais simples e sem molhos, como saladas, arroz e carnes grelhadas. Pode conversar antes com o funcionário e explicar a condição de celíaco, reforçando a ideia de que se trata de uma grave “alergia” alimentar;
  • Quando viajar, leve consigo, se possível, alguns alimentos isentos de glúten. Na maioria das agências de viagem ou companhias aéreas existe a possibilidade de solicitar previamente uma refeição sem glúten;
  • Verifique, sem exceção, a lista de ingredientes de todos os alimentos, mesmo daqueles de compra frequente;
  • Por segurança, evite comprar os alimentos a granel (podem ter sofrido contaminação cruzada) e todos aqueles que não contêm lista de ingredientes.
doença celíaca

Conclusão

doença celíaca

De forma a que os doentes celíacos tenham uma dieta completa, equilibrada e variada, é necessário a leitura atenta de rótulos, o conhecimento da lista de alimentos que contêm glúten, bem como os seus híbridos, derivados proibidos, medicamentos e produtos de higiene. É também muito importante a aprendizagem culinária.

A adesão à dieta sem glúten a longo prazo é o fator mais decisivo para a qualidade de vida do doente.Os celíacos podem ter uma vida longa e perfeitamente saudável depois de adaptarem o seu modo de comer e com o apoio adequado. E comer sem glúten pode também ser apetitoso e variado!

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *